29.5.08

Shirley D.C.

Meu filhote ainda não completou 15 dias e eu já tenho tanta história pra contar! Minha vida agora se divide em Antes e Depois de Caio. Mas, se eu for contar tudo aqui, vou quebrar todas as regras de um texto passível de ser lido. No entanto, algumas coisas eu preciso registrar:

- O dia do nascimento:
Ansiedade, tensão, preocupação. Vocês estão com nove meses, não sabem quando será o grande momento e as pessoas se sentem no direito de te cobrar uma "atitude". Como se alguém pudesse estar mais ansioso que você. Eu me senti no direito de me irritar. E falar alto.

1. Se você ficar como eu, ansiosa pela hora do parto e cansada de tentar achar os sinais que nunca chegam, lembre-se: quando você estiver de TPM em pleno final da gravidez, tá chegando a hora.

2. Se você conhece uma grávida, evite ficar perguntando o tempo inteiro "que hora esse menino sai?" e, principalmente, nunca conteste uma gestante dizendo que o problema é dela que não sabe de nada. Fique na sua.

- O parto:
Estava preparada para ter um parto normal, mas faltou dilatação e, pro meu filhote não sofrer, foi necessário fazer uma cesareana. Ou seja, senti todas as contrações de um parto normal e todas as consequências de um parto cesáreo. Mas as contrações me ensinaram duas coisas: uma é que tudo passa, por pior que seja, vai passar. A outra é que só a perspectiva de que vai doer, já dói.

1. Prefira o parto normal. Vai por mim: será melhor pra você. E o pós-parto é bem mais tranquilo. O leite sai mais rápido e seu filho não passa fome. Você consegue ir ao banheiro sozinha. Você consegue pegar seu filho do bercinho sem precisar chamar ninguém. Suas pernas não ficam sem movimento por mais de 4 horas. Seus pontos não vão te incomodar tanto. Você sente dor por algumas horas, mas não se sente inútil por dias. Etc. etc. etc.

2. Se ainda assim quiser uma cesareana, marque para uma data com folga para um possível parto normal. Senão, vai sentir a parte ruim dos dois tipos de parto, como eu senti. Resista à tentação de conversar com suas visitas ou ficará cheia de gases. E acredite: isso dóóói...

- Caio:
Lindo, príncipe, perfeito, gostoso, a melhor coisa do mundo. Meu rapazinho nasceu com 52cm e 3,560kg, às 6h25 do dia 15.05.2008, uma quinta-feira. Estou com o impulso de colocar mais um monte de adjetivos, para explicar a presença do meu filhote, mas é impossível. É um sentimento tão forte que é impossível descrever. Mas também não adianta: se você é mãe já sabe do que estou falando; se não é, não vai entender.

1. A melhor sensação do mundo é quando você está ainda na mesa de cirurgia e a enfermeira traz o seu bebê para você tocar. Impossível não chorar sentindo o rosto dele, quentinho, tocando o seu. Meu Deus, como isso é bom!

2. Na hora do parto, ouço do obstetra: "Que moleque forte!" E, assim que ele nasceu, ouço do anestesista: "Olha o tamanho desse moleque! Esse não nasceria normal nunca". Grande, forte, lindo e a cara do pai.

- Amamentação:
Cara, como isso dói. Dar de mamar dói demais. Eu não chorei de dor durante as contrações, apesar de ter gritado umas duas vezes. Mas quando aquela boquinha forte e faminta gruda no seio rachado, você chora de pura dor. Eu queria morder alguma coisa, apertar alguma coisa, eu batia o pé no chão, sofria e chorava. Você fica com medo da próxima mamada, e com razão. Mas é assim mesmo: tudo passa. Agora já estou bem melhor, o leite sai mais e o seio dói bem menos. Meu bebê já está crescendo e ficando mais gordinho.

1. O sentimento é esquisito. Você tem medo da dor; se sente culpada por estar com medo enquanto seu filho está com fome; você quer dar de mamar porque sabe que é a melhor coisa que pode fazer por ele; se sente frustrada, inútil, egoísta, fraca. Você só quer ter força, coragem e leite.

2. Aí no meio desse sofrimento todo, meu filho, dormindo, faz uma carinha de sorrir. E o marido chega e diz "Eu te amo mais ainda por tudo isso". E eu sou, de novo, a mulher mais feliz do mundo. E choro, de novo, em cima do teclado...

- Obrigado:
Minha mãe diz que a natureza sempre fala mais alto e a mulher suporta tudo. Não sei não, mas acho que sem minha mãe, Sheu e Dudu, eu não conseguiria. Eles me entendem, seguram minha onda, tentam me acalmar, cuidam do meu bebê... Tem hora que eu não sei o que fazer e eles estão lá. Obrigado é muito pouco.

1. Se você vai ter um bebê, pule pra baixo da asa da sua mãe. Isso é muito importante. Imagino o quanto deve ser difícil esses primeiros tempos sem a mãe do lado. E, se você tem, como eu, uma irmã dedicada que ainda por cima está amamentando também, você é uma privilegiada. Tia Sheu é madrinha e ama de leite.

2. Encontrar um homem é fácil. Encontrar um homem que te faça feliz é difícil pra caramba. Encontrar um homem que te faça feliz e seja um pai de verdade, isso é só pra quem nasceu com muito crédito com Papai do Céu.

3.5.08

O não-comentário do ano

Há um bom tempo estava querendo NÃO comentar um assunto: o que ficou conhecido como "Caso Isabela".

Cheguei no salão e a moça lavando meu cabelo falou, do nada: "E esse caso da menina Isabela, hein? Que que você acha?" Bicho, eu achei um absurdo tão grande, mas tão grande que só pude dizer: "Não estou acompanhando, não." E a carinha dela, de espanto: "Nããão?!?!?"

Aí fui explicar pra ela por que não:

Pra mim, isso virou uma novela. Cada dia, os jornais inventam um capítulo diferente. Se não têm nada pra falar, colocam um helicóptero em cima da casa da mãe do pai, pra ver o namorado da irmã do pai sair de moto de manhã. Em todos os programas populares só se fala disso, de manhã, de tarde, de noite, de madrugada. E todo mundo com aquela cara de indignado.

Mas porque a mídia faz isso? Porque tá dando audiência, e audiência leva a publicidade nos intervalos. Publicidade, claro, é igual a dinheiro. Não vem com essa de que estão preocupados com a punição dos culpados, a vida da coitada da menina, etc e tal. Não estão. E não estão porque quem quer que tenha sido culpado, isso não vai influenciar na vida do Brasil inteiro, de tal forma que se justificasse esquecer todos os outros assuntos.

Reflita comigo: se essa menina tivesse morrido no interior do Acre, a Ana Maria Braga falaria sobre o mesmo assunto um mês inteiro? Ela e todos os outros programas e jornais? Aliás, nenhuma outra criança morreu ou sofreu violência este mês no país? Vai ver que o pai e a madastra vão sair matando todas as crianças do mundo. Cuidado!

Preocupação com a vida da menina? Me poupe. A menina, coitada, já morreu. A mãe, que já perdeu a filha, perdeu também a privacidade. Está tendo a vida invadida, falada, comentada, extremamente desrespeitada. Liga a televisão e vê a foto, ou o vídeo da apresentação da menina na escolinha. Que preocupação hein? Que consideração!

E ainda tem um bando de idiotas querendo invadir a casa dos suspeitos. Aí aparece um babaca dizendo que tem uma filha da mesma idade e quer fazer um protesto. Em frente às câmeras, pro país inteiro. Posso imaginar ele falando: "Filma desse lado, que é meu melhor ângulo". E meus colegas jornalistas dando espaço, como se isso fosse notícia. Já virou fofoca há muito tempo.

Mas a questão com a mídia é mais profunda ainda. A moça que trabalha aqui em casa foi quem me corrigiu. "Eles mostram isso é porque a gente quer ver". Lógico, senão não teria audiência. "A gente" quer ver as cenas do próximo capítulo. "A gente" quer descobrir quem é o vilão. "A gente" quer ver a mocinha sofrer. Ouvi inúmeras pessoas dizendo que a mãe da menina está muito fria. "Nem parece que está sofrendo". Puta que o pariu. "A gente" quer ver a desgraça alheia escancarada. "A gente" quer ver dor, gritos e desespero. A mulher não pode escolher nem se vai sofrer calada, se vai chorar no quarto, ou se o jeito dela é esse mesmo. "A gente" vê, julga e condena. "A gente" sempre pára quando vê um acidente, atrapalhando a equipe de resgate, atrapalhando a respiração da vítima, por que "a gente" quer espetáculo. É isso que "a gente" sempre quer: espetáculo.

É claro que não falei tudo isso nem pra moça do salão, nem pra moça que trabalha aqui em casa. Fiz um resumo mais superficial. Mas se "a gente" quiser comentar esses aspectos do caso, fique à vontade. Não me venha perguntar o que achei do capítulo anterior.