4.5.10

O DOS e o vale-night

Não. Eu não sou tão velha assim. Mas eu fiz curso de DOS - o sistema operacional antes do Windows (meu Deus, antes do Windows!!). A gente falava MS-DOS. E tinha o WS, editor de texto. Até hoje salvo meus arquivos com nomes em letras minúsculas, sem caracteres especiais e usando underline.

Eu sou do tempo em que o monitor era monocromático - letras verdes, fundo preto. Só. E a gente achava o máximo imprimir figuras e frases com fontes estilo manuscritas, numa espécie de faixa. O programa que fazia isso era o Banner e a impressora era matricial. O disquete era quase do tamanho da tela do notebook que eu uso agora.

Quando chegou o Windows foi uma festa! Monitor colorido e - advinha - o mouse. Lembro que meus colegas de curso não acertavam colocar o ponteiro em cima do X para fechar a janela. E eu ia de mesa em mesa ajudar...

Eu não sou tão velha assim. Mas me lembro perfeitamente do barulho que o modem fazia para se conectar à internet. A conexão era discada e a gente esperava até a meia-noite, para pagar apenas um pulso na ligação. Demorava a noite toda pra baixar uma música. E as minhas primas iam lá pra casa, para ver a internet. Tadinhas, cochilavam muito antes da gente conseguir uma conexão.

Eu ainda sou do tempo em que as pessoas marcavam encontro na sala de bate-papo do Uol. "- Oi. Quer tc? - Não, estou esperando meu noivo. Ele está em Macapá e nós vamos conversar aqui". Parece um universo paralelo para quem está na casa dos 20 ou menos, mas era na época antes do MSN. E olha que antes do MSN ainda tinha o ICQ.

Eu lembro dessas coisas perfeitamente. No dia que comentava esses e outros fatos históricos com o rapaz da TI, percebi que me espanto tanto com as esquisitices que existiam antes como com as aberrações que se inventam hoje.

Nada a ver com a informática. Estava no refeitório da faculdade e na mesa do lado um pessoal mais jovem falava sobre relacionamentos. Até que alguém disse que fulano tinha recebido um vale-night. Alguém lá da mesa também não sabia o que era e a menina explicou. "-Você ganha um vale-night e pode fazer o que quiser, com quem quiser, durante aquela noite, sem consequências para o relacionamento. - Nossa, eu não daria um vale-night! - Eu já ganhei um." O rapaz de brincos e piercings explicou que não fez nada demais.

Fico pensando na situação: "-Amor, hoje vai ter aquela festa. Tô afim de pegar umas mulheres. Me dá uma vale-night? - Meu bem, vou sair com as minhas amigas. Elas tem uns primos maravilhosos. Me dá um vale-night?". Pior que isso só um noivo em Macapá (se a noiva não estiver em Macapá, claro).

Porque se pede e se dá um vale-night hoje em dia? Será que vale-night é só pra relacionamento sério ou também pode ser usado com os atuais ficantes fixos? Isso realmente não tem consequências? Não sei. É. Tô ficando velha...

O que eu sei é que fiquei o resto da noite com a bendita música de Durval Lelis na minha cabeça: "Ela me deu uma vale-night". Só. Acho que nunca ouvi o resto...