14.5.07

Gladiadores

Quando eu assisti ao filme Gladiador, fiquei pasma com o desejo humano de ver o sangue alheio. Como aquelas pessoas podiam se divertir tanto com o sofrimento dos outros? A luta era um espetáculo naquela época, e eu pensei: "Que bom que evoluímos!".

Mas eis que esta semana fomos chamados para gravar o DVD do Conquista Fight 2007. Um ringue, 13 lutas, boxe, muay thai e o MMA (Mixed Martial Arts), mais conhecido como vale tudo. Rodrigo Minotauro não foi, mas Rogério Minotouro estava lá, como ícone. O espetáculo foi no Ginásio de Esportes, que estava lo-ta-do. Entre 3 mil e 5 mil pessoas gritaram, aplaudiram, vaiaram, foram ao delírio.

Tudo bem, eu sei que os lutadores são atletas treinados, estão ali porque querem (ou porque foi a oportunidade que encontraram). Mas o que me espantou foi justamente o mesmo desejo humano de ver o sangue alheio. Cada pessoa naquele ginásio pagou R$ 10 antecipado ou R$ 15 na hora e quando o apresentador perguntava "O que vocês querem ver?" em coro o ginásio respondia "Porrada!".

Não, não é sensibilidade demais. Na apresentação de capoeira, que abriu o evento, o povo, em peso, vaiou os capoeiristas. Só aplaudiu quando alguém errou o gingado e acertou o colega. Na luta de boxe e no muay thay, ninguém se empolgou de verdade. Murros, chutes e técnica não são o bastante.

"Porrada!"

Mas aí começou o esperado vale tudo. Um festival de socos, pontapés, é algo realmente pesado. Invariavelmente a luta vai ao chão e os espectadores, ao delírio. Mas aos gladiadores não é permitido ficar muito tempo sem "Porrada!". O público vaia. Aí um dos lutadores se levanta, e se o outro fica deitado o ginásio vem a baixo: "Pisa! Pisa!" O povo quer e ele pisa. No estômago. Gritos, palmas, assovios, algo próximo à satisfação, um orgasmo. Uma mulher atrás de mim gritava desesperada: "Pisa nele, neguinho! Chuta a cara dele neguinho! Mata, mata ele!"

Paulinho e Buda

Os técnicos dos lutadores comandavam: "Machuca ele, machuca!" Paulinho, mais de 1,80m e forte, muito forte, pegou o Buda e rodou, rodou e jogou fora do ringue. Foi praticamente um terremoto arquibancada a baixo. O carinha que lutou com César "Monstro" Profeta ouviu logo na entrada: "Uh! Vai morrer! Uh! Vai morrer!" Morrer, ele não morreu. Mas apanhou um tanto.



César "Monstro" Profeta

No fim, por mais que o número de supercílios abertos, joelhadas no estômago, socos, pisadas e porrada tenha sido grande, o maior espetáculo de violência veio da arquibancada. No ringue - deixando minha opinião de lado - era esporte. Mas o povo não quer esporte. "O que vocês querem ver? Porrada!".

"Pisa! Pisa!"


Ps.: A mulher atrás de mim só sossegava por alguns segundos, enquanto via coxas e peitorais se apresentando antes de subir ao ringue.
Ps.2: Se você também quer ver "Porrada!", calma. Vai sair o DVD.
Ps.3: As fotos são do site AcheiConquista

Um comentário:

Anônimo disse...

me senti lá... presente de novo... hehehehe
a melhor definição de tudo, detalhadamente...
essa é a minha mulher...
uhuuuuu...