23.5.07

Boto fé nos chicleteiros!

Sabe aqueles clipes de noivos que passam nas recepções dos casamentos, com fotos, vídeos, tal? Pois é, eu edito aqueles clipes. Paciência, dedicação e um tanto de frescurite.
Hoje em dia, ninguém mais suporta trilha sonora de Kenny G, ainda bem. Então a gente usa Elton Jhon, Hotel Califórnia, Tribalistas, etc. O povo adora!

Ainda assim me espantei na semana passada. A música era "100% você", Chiclete com Banana. Sério! Foi escolhida de comum acordo entre os noivos. Ele é de Brasília e chicleteiro assumido. Pelo jeito ela também. Além disso, só sei que têm um poder aquisitivo razoável.

A música tem exatos 4 minutos e 2 segundos, na versão ao vivo (tem outra?). O cara repete a vocalização "Lerê, lerelerelere, lerê" milhares de vezes.

Mas digo que boto fé nos chicleteiros exatamente por isso: eles gostam mesmo e assumem! Quantas pessoas você conhece que curtem Calypso, Psirico, Zezé Di Camargo ou algo assim e não assumem nem que lhes pague? Pois é. Os chicleteiros assumem. Eu, confesso. Na adolescência curtia Raça Negra e até hoje sei algumas músicas deles...

E o clipe fez o maior sucesso na festa. O povo sorriu, chorou, cantou, dançou, aplaudiu. Até a mãe do noivo requebrou na frente do imenso telão que armaram lá. Diz que só se via os bracinhos da velhinha pra cima! Boto fé nos chicleteiros!

14.5.07

Gladiadores

Quando eu assisti ao filme Gladiador, fiquei pasma com o desejo humano de ver o sangue alheio. Como aquelas pessoas podiam se divertir tanto com o sofrimento dos outros? A luta era um espetáculo naquela época, e eu pensei: "Que bom que evoluímos!".

Mas eis que esta semana fomos chamados para gravar o DVD do Conquista Fight 2007. Um ringue, 13 lutas, boxe, muay thai e o MMA (Mixed Martial Arts), mais conhecido como vale tudo. Rodrigo Minotauro não foi, mas Rogério Minotouro estava lá, como ícone. O espetáculo foi no Ginásio de Esportes, que estava lo-ta-do. Entre 3 mil e 5 mil pessoas gritaram, aplaudiram, vaiaram, foram ao delírio.

Tudo bem, eu sei que os lutadores são atletas treinados, estão ali porque querem (ou porque foi a oportunidade que encontraram). Mas o que me espantou foi justamente o mesmo desejo humano de ver o sangue alheio. Cada pessoa naquele ginásio pagou R$ 10 antecipado ou R$ 15 na hora e quando o apresentador perguntava "O que vocês querem ver?" em coro o ginásio respondia "Porrada!".

Não, não é sensibilidade demais. Na apresentação de capoeira, que abriu o evento, o povo, em peso, vaiou os capoeiristas. Só aplaudiu quando alguém errou o gingado e acertou o colega. Na luta de boxe e no muay thay, ninguém se empolgou de verdade. Murros, chutes e técnica não são o bastante.

"Porrada!"

Mas aí começou o esperado vale tudo. Um festival de socos, pontapés, é algo realmente pesado. Invariavelmente a luta vai ao chão e os espectadores, ao delírio. Mas aos gladiadores não é permitido ficar muito tempo sem "Porrada!". O público vaia. Aí um dos lutadores se levanta, e se o outro fica deitado o ginásio vem a baixo: "Pisa! Pisa!" O povo quer e ele pisa. No estômago. Gritos, palmas, assovios, algo próximo à satisfação, um orgasmo. Uma mulher atrás de mim gritava desesperada: "Pisa nele, neguinho! Chuta a cara dele neguinho! Mata, mata ele!"

Paulinho e Buda

Os técnicos dos lutadores comandavam: "Machuca ele, machuca!" Paulinho, mais de 1,80m e forte, muito forte, pegou o Buda e rodou, rodou e jogou fora do ringue. Foi praticamente um terremoto arquibancada a baixo. O carinha que lutou com César "Monstro" Profeta ouviu logo na entrada: "Uh! Vai morrer! Uh! Vai morrer!" Morrer, ele não morreu. Mas apanhou um tanto.



César "Monstro" Profeta

No fim, por mais que o número de supercílios abertos, joelhadas no estômago, socos, pisadas e porrada tenha sido grande, o maior espetáculo de violência veio da arquibancada. No ringue - deixando minha opinião de lado - era esporte. Mas o povo não quer esporte. "O que vocês querem ver? Porrada!".

"Pisa! Pisa!"


Ps.: A mulher atrás de mim só sossegava por alguns segundos, enquanto via coxas e peitorais se apresentando antes de subir ao ringue.
Ps.2: Se você também quer ver "Porrada!", calma. Vai sair o DVD.
Ps.3: As fotos são do site AcheiConquista

2.5.07

Por Marcelo Guedes

Marcelo Guedes é um grande fotógrafo que agora mora e trabalha em Vitória da Conquista. Ele sempre faz isso comigo: registra o meu trabalho nos eventos e a minha cara de satisfação em fazer o que eu gosto. E olha que nesse dia aí eu nem estava tão satisfeita assim, rssss...

Às vezes fico pensando se é normal que uma jornalista profissional goste de filmar, puxar cabo, editar, essas coisas... Fico achando que o normal seria ficar só na frente da câmera, ou no máximo produzindo. Mas eu gosto de tudo isso!! Pelo menos quando é para a antiga e nova TVLocal36, eu curto muito. Queria saber o que os meus colegas pensam disso, de mim.